Em que situação chegamos no Rio Grande do Sul!?. Justifica-se com a tinta e o papel da lei que um ente político, cujo exercício do cargo é transitório, pode usufruir do erário, do dinheiro do contribuinte, para fins privados. Sim, esta é a explicação dada pelos cordatos defensores do governo de Yeda Cruzius (PSDB, PTB, PMDB, PP). O fato de aparecerem notas cobrando ao cidadão-contribuinte, através do caixa do governo, móveis e outros serviços prestados na casa da senhora Yeda Cruzius, justifica-se pelo fato de ela ser a governadora eleita pelos gaúchos?
Por esta ótica, de que a privada é extensão da atividade pública, o prefeito de Estância Velha (por sinal do PSDB, mesmo partido de Yeda), por exemplo, pode adquirir móveis e fazer reformas na sua casa e mandar a conta para a contabilidade da prefeitura. Da mesma forma, o presidente do Legislativo (este do PSB, mas ele sabe disso?) pode proceder. A questão é apenas de conceito moral já que a lei permitiria tanto. E como se sabe, leis nem sempre ratificam conceitos morais. A propósito desta consideração é bom ficar de olho tanto no Executivo quanto no Legislativo pois o argumento utilizado pela governadora para fazer o que fez pode servir agora a outros mandatários públicos.
É certo que este último fato – o de que a governadora Yeda Cruzius, usou dinheiro do Erário para fins privados da cidadã Yeda Cruzius – não deve também ter sido considerado pela relatora do processo de impeachment, a deputada Zilá Breitembach (PSDB). Até por que é mais recente e outros de igual ou maior nível escandaloso deverão surgir até o final do mais desastrado governo que o estado já teve. Por conta disso, a deputada entendeu, ao assinar o relatório negando andamento ao processo, que todos os fatos, gravações, indícios e provas até agora apresentados a sociedade não passavam de ilações mentirosas, falsas dos que fazem oposição a governadora, dos que rejeitam o seu governo, ou seja, segundo pesquisas, perto de 70% do eleitorado gaúcho. Não se esperava outra coisa da ex-prefeita de Três Passos embora, às vezes, ela pareça constrangida na sua persistente defesa do governo do seu partido, pois deve ter em conta que fez dois governos sérios e isentos na sua cidade, sobre os quais não recairam tantas dúvidas como recaem agora sobre a sua companheira de partido que esta no Piratini.
Tudo isso que acontece no estado, por certo, tem como uma das suas causas o processo eleitoral que se desencadeia tão logo o governante eleito toma posse para cumprir o mandato que lhe delega o eleitor. O que pode servir de refrigério a nossa alma gaúcha é que tudo isso sirva de lição para que estejamos mais atentos ao direito que legamos aos políticos para nos representarem na condução do país, do estado e do município. Não devemos aceitar que eles façam na vida pública o mesmo que façam na privada.
Daniel Ribeiro

2 comentários:
“A função da escola é ensinar às crianças como o mundo é, e não instruí-las na arte de viver. Dado que o mundo é velho, sempre mais que elas mesmas, a aprendizagem volta-se inevitavelmente para o passado, não importa o quanto a vida seja transcorrida no presente”
(ARENDT, 1992, p. 246).
Age de modo ético o professor que impõe aos alunos, durante a aula, um candidato x ou partido para eles votarem?
Cabe ao professor, do alto de sua cátedra, fazer pregação política ou deve problematizar ou analisar o momento político, as tendências, os candidatos, os interesses que estão em jogo?
Qual é a função dos professores em época de eleições?
Durante a campanha eleitoral, o professor, como cidadão que é, também pode ser tomado pela paixão política, deixando de lado o compromisso de análise serena sobre o contexto político do momento?
Ao exprimir tal opinião, o professor revela seu lado pessoal quando seu trabalho deve ser necessariamente impessoal; sua função é o da transmissão do saber sistematizado, no caso, sobre o complicado jogo político, os interesses pessoais e de grupos, as demandas dos diversos partidos políticos, etc.
Desde a época da ditadura militar é lugar comum dizer que o compromisso do professor é o de levar os alunos a pensar criticamente o mundo em que vivemos. Embora a palavra ‘crítica’ fosse usada, naquele contexto político, como um fetiche que enfeitiçava tanto os que a usavam como os que a ouviam, o sentido geralmente empregado era o de ir contra o ‘sistema’ capitalista e o ‘regime’ ditatorial. Ora, ser crítico parece implicar algo mais do que o mero levantamento de objeções ou a emissão de opiniões estereotipadas e descontextualizadas. O aluno que aprendeu somente repetir compulsivamente frases prontas, plagiadas da boca de um autor ou professor em vez de assumir o trabalho de pensar, analisar e contextualizar tanto as palavras como os acontecimentos, ainda não sabe ser crítico porque não foi bem educado nesta habilidade. Um aluno que age como se fosse um boneco ventríloquo do seu mestre posicionado criticamente não está sendo verdadeiramente crítico, porque, tal atitude ‘critica’ deve ser construída pelo próprio sujeito criativo; por outro lado, se auto-engana o professor que troca seu compromisso profissional de problematizar as coisas para ser um “líder” para os seus pupilos, alertava o sociólogo Max Weber (1982; tb. CARVALHO, 2004, 2005).
A paixão política na sala de aula pode ser semelhante à paixão religiosa, pois ambas podem elevar a temperatura da discussão entre alunos e professor. Contudo, cabe ao professor sinalizar sobre a existência de uma ética pró-conhecimento racional: a sala de aula não deve ser um lugar de pregação política (nem religiosa), mas sim um espaço de debate de idéias.
A direção da escola e seu regulamento devem garantir o direito dos alunos terem um professor que “ensina” e/ou “educa”. o bom professor sabe como deve politizar um assunto, sem necessariamente fugir de cumprir o conteúdo programado para o conhecimento e sem declarar sua opinião. Afinal, o ofício docente é o de promover o conhecimento e não a opinião.
Veio questionar a legalidade e a moralidade da aquisição da mobília para a residência particular da governadora.
O argumento da nobre professor, salvo uma interpretação equivocada de minha parte, é o de que haveria uma “confusão entre o público e o privado no Rio Grande do Sul”.
O professor teria absoluta razão se duas hipóteses fossem verdadeiras: a de que a governadora pretendesse se apropriar da mobília após o término do mandato, ou o estado não fosse um ente federativo de um país governado pelo presidente Lula.
A primeira hipótese é a mais trivial possível. Os moveis foram adquiridos numa operação legal e transparente, estão etiquetados como patrimônio do estado e serão devolvidos ao erário público, ponto.
Já a segunda hipótese não é nada trivial.
O Rio Grande do Sul não constitui uma república independente. A Revolução Farroupilha foi derrotada, ou melhor, o resultado dessa “revolução” foi um acordo intra-elites.
Dessa forma, vivemos em um ente federativo cujo governante dá um exemplo como “nunca antes na história deste país” de confusão entre o público e o privado.
Alguém se lembra da estrela do PT ornamentando os jardins do Palácio Alvorada?
Do filho do presidente Lula utilizando aviões da FAB para proporcionar férias aos seus colegas?
Do carro oficial utilizado para o transporte da cachorrinha do casal presidencial?
Do uso de verbas públicas para a “compra” de aliados?
Do escândalo dos cartões corporativos? Etc, etc.
Como as duas hipóteses não procedem, creio que a nobre Professor, no afã de conquistar os seus quinze minutos de fama, confundiu e desinformou os eleitores.
É lamentável que os gaúchos estejam deturpando o sentido da representação política.
Legalidade e moralidade não são palavras para serem utilizadas ao léu.
Quem QUER falar em Ètica e Moral tem o dever que ter ÉTICA E MORAL!
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