pescador

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Meus vizinhos eram uns chatos.
Quer dizer, eram gente boa, mas quando queriam sabiam ser chatos.
Sei lá... incomodavam, mesmo.
Na real, só às vezes.
A questão é que, todos os dias, eles acordavam cantando.
Imagina.
Além do mais, tinha uns dois lá que, olha, eram pra lá de desafinados.
Eu, querendo aproveitar as manhãs para dormir, já que trabalhava a noite, e meus nobres vizinhos cantando.
Um saco.
Não sei por que eles também não aproveitavam pra dormir, ou quem sabe, ler.
Ah! Eles podiam fazer qualquer coisa, menos atordoar meu sono.
Volta-e-meia, quando juntavam mais alguns parentes, então, nossa! A cantoria começava de manhã e ia até tarde da noite.
E outra, era só voz. Nada de violão, bateria, nada na percussão.
E reitero, tinham dois que eram uns bambus de tão ruins. Acho, inclusive, que eram os mais novos da casa, os filhos.
Eu sempre achei aquela família um tanto quanto estranha. Deixava por isso, não comentava, nem mesmo com meu pai, velho que tá, adorava ficar na janela ouvindo eles cantar.
Vê se posso!
E outra, tem aquela coisa... política da boa vizinhança.
Eles também não reclamavam quando às 4 horas da madrugada, eu estava com o som ligado, não muito alto, no meu quarto. Minha janela dava para os lados de um arvoredo, e eles moravam por ali, alguns metros além.
Eu quase não os via, também pudera, quase não saia de casa. E quando os via, eles mal me olhavam. Nunca trocamos uma palavra que fosse. Nada, nem um oi qualquer.
Era indiferente pra mim.
Um dia, eu não agüentei mais. Foi bem no dia em que levei minha gata lá pra casa.
Por Deus, juro!
Quando o mais velho, o pai, a viu, ressoou um estrondoso assobio.
Daqueles que só gente grande sabe dar.
Deu pra entender?
Na hora, não pensei duas vezes, peguei a espingarda e mutilei a casa daqueles malditos passarinhos.
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Essa história era sempre contada pelo Luiz.
Pescador, que era.